quinta-feira, 16 de junho de 2016

Não conte, mostre (mas pode contar também)


Provavelmente você já deve ter ouvido ou lido por aí o conselho “não conte, mostre”. Mas o que é “contar” e o que é “mostrar”? Contar é apresentar informações úteis para a continuação da história – como enredo, passado das personagens, motivações, histórico do mundo, dentre outros – através da voz do narrador. Quando uma autora ou autor “conta” algo, as informações são lançadas diretamente no texto, num fluído contínuo, como em uma aula expositiva. É muito comum, por exemplo, em contos de fada. Observe o trecho abaixo, em que o narrador introduz as personagens, o cenário e parte da complicação:
“Às margens de uma extensa mata existia, há muito tempo, uma cabana pobre, feita de troncos de árvore, na qual morava um lenhador com sua segunda esposa e seus dois filhinhos, nascidos do primeiro casamento. O garoto chamava-se João e a menina, Maria.
A vida sempre fora difícil na casa do lenhador, mas naquela época as coisas haviam piorado ainda mais: não havia comida para todos.” (João e Maria, Irmãos Grimm)
Já a técnica de “mostrar” apresenta informações por meio de outros elementos narrativos, como diálogo, monólogos internos, ação… No exemplo do trecho acima, ao invés de “contar” que há muito tempo atrás existia uma cabana pobre com um homem, sua esposa e seus dois filhos, a autora ou autor poderia “mostrar” essas informações, iniciando a história com uma cena de diálogo entre os familiares, em que o principal assunto fosse a falta de comida, pontuando o texto com descrições do casebre.
Não há nada de errado em “contar”, mas uma informação fora de hora pode quebrar todo o fluxo do texto. Além disso, muita informação pode torná-lo tedioso e afastar as leitoras e leitores. Por isso, fizemos uma lista com os principais elementos usados para “mostrar” e as melhores formas de trabalhá-los.
1) Diálogo
O diálogo é um dos elementos que mais podem ajudar na hora de “soltar” informações relevantes para sua história. Por exemplo, você precisa contar sobre a guerra entre drones e pôneis alienígenas, ocorrida em seu cenário cem anos antes do período presente. Ao invés de iniciar um parágrafo com “há cem anos atrás, uma raça de pôneis alienígenas invadiu Fertulia. Para combater seu avanço, a humanidade criou poderosos drones de guerra”, você poderia criar uma cena em que uma professora narrasse para seus alunos o acontecido, ou simplesmente polvilhar a informação em um diálogo entre duas personagens. Mas cuidado para não construir um diálogo irreal, colocando duas personagens para discutir um assunto que ambas saberiam. Esse erro, conhecido como “como você já sabia, Fulano”, é muito comum entre escritoras e escritores iniciantes e tira a credibilidade de uma cena. Uma dica para evitar essa situação é ter certeza que uma das  personagens no diálogo ainda não saiba da informação que lhe é contada, e que essa informação seja pertinente para a personagem.
2) Ação
Ação são momentos em que as personagens interagem com a trama. Não precisam ser necessariamente momentos físicos – podem representar dilemas morais, apresentação de novos paradigmas, dentre outros. É possível usar a ação para passar informações sobre o seu cenário e agitar o seu enredo. Por exemplo, uma cena mostrando uma personagem resgatando um documento perdido, além de dar o tom de sua história, pode transmitir informações sobre o histórico do mundo, a personalidade da personagem, suas motivações… E tudo de forma orgânica e fluida.
3) Monólogos internos
“Monólogos internos” são momentos de contemplação das personagens, quando temos acesso aos seus pontos de vista, motivações e impressões sobre o mundo. São uma ótima forma de dar informações de pano de fundo e experiências passadas. Você deve ter cuidado, entretanto, para que esses pensamentos ocorram de maneira crível. Não é muito crível, por exemplo, que uma personagem pare tudo o que está fazendo, sente-se numa pedra e comece a refletir sobre seus pais. Da mesma forma, evite avisar que a personagem irá fazer uma pausa para reflexão – “Fulano suspirou e lembrou de seu primeiro dia de aula”. Uma dica para criar bons monólogos internos é mistura-los com um pouco de narração.
4) Narração
Por fim, é impossível passar todas as informações de uma história sem usar a narração. Como citamos no começo da postagem, narrar informações pode ser um problema quando quebra o fluxo do texto ou quando é usada em grandes trechos, tornando-se tediosa. Porém, em pequenos trechos a narração pode ser uma importante ferramenta. Lembre-se de informar somente o necessário e mantenha as informações sempre relacionadas à cena em questão.
Por Luísa Montenegro

Fonte: https://escrevendofantasia.wordpress.com

0 comentários:

Postar um comentário