No
texto que segue abaixo, Edson Cruz, poeta e editor do site Musa Rara, transmite
algumas dicas um tanto diferentes, inclusive na maneira de expô-las (é um
poeta, afinal) para aqueles que gostam de escrever. Vale conferir:
A
gravidade sem peso
O
escritor contemporâneo, na construção de seu projeto literário, deve ter um plano de voo (um projeto) com
uma estrutura leve como a ossada de um passarinho, cujo objetivo maior seja o
de fazer com que o leitor e o texto decolem juntos e, por que não, o próprio
autor.
Algumas dicas práticas,
referentes ao trabalho com o texto são sempre bem-vindas. Façamos bom proveito
delas:
1. O toque de leveza
transforma as frases explícitas do texto em sutilezas que surpreendem e fisgam
o leitor seduzindo-o para a continuidade da leitura.
2. Aparar as pontas
das palavras gastas pelo uso, das frases vazias, das observações desnecessárias
e das descrições muito longas.
3. Saber a hora de
evitar um adjetivo desnecessário.
4. Saber eliminar um
advérbio cujo sentido já está implícito no verbo da frase. Evitar as
explicações. O leitor deverá compreender, por si mesmo, a trajetória do texto
em voo.
5. Mantê-lo (o leitor)
ligado no texto, evitando repetições e remissões.
6. O excesso de
gordura e peso de um texto advém de nosso medo pessoal (a escritura não é lugar
de uma terapia pessoal), de nossa ansiedade, da pressa (o afã de ser
reconhecido, de publicar, de marcar presença) ou da pressão externa (aceitar
prazos que não sejam os de sua própria criação).
7. Esvaziar a linguiça
(enchê-la qualquer um faz, esvaziá-la com estilo é o desafio). Frases extras
diminuem o ritmo e tornam o texto enfadonho.
8. Aprender a
reescrever o texto quantas vezes forem necessárias (não esquecer a prática
ensinada por João Cabral ou por João Gilberto) para deixá-lo respirar aliviado
e airoso. Sim, leveza não é só cortar, mas, também, reescrever, redistribuir
palavras, frases, ideias, enfim, reorganizar.
9. Ouvir a melodia do
texto e buscar a harmonia necessária. Onde está a tônica, a terça e a quinta de
seu texto? A terça é menor ou maior? O acorde precisa de uma sétima menor, uma
nona? Você quer realçar o trítono?
10. O ritmo do texto
entra em consonância e no compasso da tônica, seja ela uma imagem, uma ideia,
uma palavra. Ao ler em voz alta os sons do tecido textual poderão nos alertar
para cacofonias e inadequações em vários níveis.
11. Literatura busca
ambiguidade, mas não a confusão. De confusão o mundo está cheio. O escritor,
assim como o músico, surge para colocar ordem no caos, mesmo que seja uma ordem
não reconhecida em um primeiro momento, uma ordem caótica.
12. Ter consciência de
que técnica e background (um autor sem vivências, sem leitura, sem o
sofrimento, sem a alegria, sem o desespero, pode ser facilmente substituído por
uma máquina de produzir textos sem ossatura) são duas coisas totalmente
diferentes e igualmente importantes para um escritor.
13. Nunca deixar de
buscar um estilo próprio e pessoal de escrita. Parece redundância, mas é a
coisa mais difícil de alcançar. Estar só sem desprezar o mundo e os seres é um
exercício digno de um Buda.
Os
ossos da escrita são colosso.
Autor: Edson Cruz
Fonte: http://rascunho.com.br
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